Duvidam da minha lucidez quando ouvem meu clamor em prol da busca pela justiça. Ouço que o gigante acordou, e quando afirmo já ter visto antes o seu despertar, sou novamente taxado de lunático. As pessoas continuam a dizer que este nunca passou de um moinho, que visto de contra o sol, ofuscou meus olhos e estremeceu minha mente fazendo-me delirar. Mas paro e reflito sobre a real situação e me pergunto: Seria eu de fato o esquizofrênico? Ou será toda essa sorte de plebeus que, se iludem por restos que caem dos pratos da real realeza, ainda mais delirante? Estava eu aqui quando, nessa terra de índios, todos os nativos - agora mestiços -, mais uma vez pintaram suas faces, e eu, junto a eles, com lança empunhada, derrubamos outro gigante – este mereceu ser derrubado. Mas o meu pequeno Brasil deixou que essa lembrança se esvaecesse, e hoje, novamente, tal monstruosidade se reduziu a um moinho. Assim também se reduziu a vontade e coragem dos homens que o derrubaram. Estes tais se ludibriam pensando ser fidalgos quando são tratados como cães. Agora o gigante somos nós, e não haveremos de sermos derrubados. Novamente pergunto: seria eu o louco?
Quando nas desventuradas procissões houve de se ouvir falar em porcos fardados, eu, em verdade digo, que o que meus olhos avistavam não eram porcos, e sim dragões cuspidores de fogo. Dragões estes que temiam por cuspir as labaredas, mas haviam de acatar ordens dos superiores - estes sim eu os via como porcos em espírito. E por ordem destes, foram lançadas chamas, que reduziram um exercito ao vazio. Deixando pra trás apenas um rastro de fumaça e sangue. Mais uma vez sou o louco em dizer que não temos democracia. Os reis e seus exércitos ainda reinam nos dias atuais, fazendo dos nossos espaços públicos os seus grandes feudos.
Sobre a névoa que cobre os horizontes na batalha, que desnorteou os pobres cavaleiros andantes, tenho a dizer que não a tema! Nada seria mais valoroso para os suínos engravatados que a guerra se perdesse de dentro. Que se ruísse como numa implosão, e fosse ao chão como um castelo de cartas. Não saber aonde se quer chegar é, de fato, assaz prejudicial à busca por algo, mas, se ao menos se sabe aonde não se deseja estar, já faz com que o horizonte se torne mais nítido e o ar respirável.
Mas o que, de tudo isto, ficará? Depois que a moda passar, onde descansará os bobos da corte que fazem da peleja uma festa? Onde curarão as feridas abertas no grande e falido exercito vermelho, ou qualquer outra tropa uniformizada? Não sei dizer. Mas rogo aos céus que nos dê discernimento quando o tempo de eleger os nomes porcos for chegado. E já de antemão clamo aos anjos do reino dos Céus que abençoem meu menino Brasil, na sua luta pela maturidade. Pois aqui todos somos lunáticos.